Comércio de Fortaleza não está preparado para a Copa das Confederações

Faltam apenas 25 dias para o início da Copa das Confederações. O evento, um teste para aCopa do Mundo de 2014, trará ao Brasil seleções como, além da própria anfitriã,EspanhaItáliaUruguaiJapão… Se há alguns anos esta era a época de pintar a cidade de verde e amarelo, em 2013 a história é outra.

A camisa de Neymar, segundo os vendedores a mais procurada, ainda é difícil de encontrar, escondida atrás dos uniformes de Ceará, Fortaleza, Flamengo… Fotos: Levi de Freitas

Para encontrar produtos alusivos ao Brasil ou à Copa das Confederações é preciso disposição e muita força de vontade para aventurar-se pelo Centro da cidade. “Poucos lojistas se prepararam”, avalia o gerente de uma loja do bairro. E não é difícil chegar a esta conclusão.

redação web do Diário do Nordeste percorreu as principais ruas e avenidas do Centro nesta segunda-feira (20). E foi difícil encontrar lojas ou mesmo vendedores ambulantes com material verde e amarelo.

Na rua Liberato Barroso, os vendedores ambulantes concordam que a procura dos fortalezenses por produtos para a Copa ainda não é a esperada. “Temos que ter esperança, né? O comércio está fraco, a procura ainda está pouca, mas estamos começando a apostar”, garantiu Eduardo Araújo, 35, que tem na ponta da língua a justificativa para o clima ‘frio’ do torcedor cearense: “Se o Felipão tivesse convocado o Osvaldo…”, opinou. Na barraca em que trabalha Eduardo, uma camisa canarinha brilha com o nome de Neymar às costas. Com o mesmo brilho no olhar, o ambulante tal e qual o treinador da seleção, deposita suas esperanças na camisa 11 brasileira. “A do Neymar é a que mais vende. Acredito que as coisas vão melhorar”, divaga.

Vendedor Wilson Rodrigues posa orgulhoso e esperançoso com o material que comercializa: confiança no aquecimento das vendas

A alguns metros dali, trabalha o ambulante Wilson Rodrigues da Silva, 42. Também esperançoso com o futuro de suas vendas, Wilson sabe o motivo de a cidade ainda não estar no clima da Copa. “Cearense deixa tudo pra última hora. O pessoal procura os produtos em cima da hora. Mas temos que ser otimistas”, frisa, tentando ‘vender’ ao repórter sua coleção de camisas estrangeiras. “Tenho da Espanha, da Alemanha, da Argentina…”.

Cidade desenfeitada

A moda da Copa rege que as pessoas utilizem não só roupas mas também itens e detalhes nas cores do país. Brincos, colares, fitas, pulseiras… Entretanto, quem for ao Centro de Fortaleza, terá de ‘bater muita perna’ para encontrar o que procura.

Após algumas voltas pelo bairro comercial, foi possível encontrar Denise da Silva, 29, organizando o verde e amarelo da loja Mil Opções Bijuteria. “Apostamos mais no verde e amarelo, está saindo bem”, garante. Entretanto, as concorrentes não estão da mesma forma. Dentre as muitas lojas do segmento, a Toda Chic Biju, na rua Liberato Barroso, também não possuía uma peça sequer nas cores do Brasil. “A procura ainda não começou. O nosso material vem de São Paulo, e só no final do mês vamos definir como iremos trabalhar”, afirmou uma das funcionárias.

Bijuterias verde e amarelo ainda são raras no Centro de Fortaleza

Após cerca de meia-hora andando pelo Centro, foi possível encontrar a loja Cyssales, na rua Senador Alencar, com um espaço dedicado às cores do Brasil. As lojas vizinhas sequer possuem decoração temática. O vendedor Diego Alves, 22, afirma que o comércio “deixou para a última hora” a preparação para a Copa. “Apostamos no verde e amarelo. As vendas estão razoáveis. A expectativa é melhorar até o jogo do Brasil, pelo menos”, determina o funcionário, listando que as buzinas, cornetas e bandeiras juninas em verde e amarelo são os produtos mais procurados.

“População está desacreditada”, avalia gerente

A loja BD Sports, da rua Pedro Pereira, possui vários produtos relacionados à Copa. A bola oficial, camisas oficiais de Brasil e Espanha, um chinelo oficial… De acordo com o gerente Nazareno Andrade, que possui 23 anos de experiência no ramo, a credibilidade da loja é alimentada pela preparação antes de eventos como a Copa das Confederações. “Minha preocupação como gerente é a procura ser muito intensa. Poucos se prepararam, e os clientes vão procurar quem se preparou. Minha preocupação é faltar produto. Mas nós, como loja de esportes, estamos preparados. Por isso, nossa credibilidade é grande”, pontuou.

A bola oficial da Copa, a ‘Cafusa’, foi vista à venda na loja BD Sports

Nazareno destaca o que, para ele, são os principais fatores para o “clima de obra e não de Copa” observado na cidade. O gerente cita que os problemas estruturais do entorno da Arena Castelão, palco dos jogos da competição, e a situação financeira do país, são os pontos fortes que descredibilizam o evento e, por consequência, esfriam as vendas. “Devido às dificuldades com o aumento da inflação, a seca, há um ‘furo’ no bolso de muita gente. Daí o pessoal (os lojistas) fica naquela, de que o comércio tá fraco, e ficam receosos. Com os problemas no show do Paul McCartney, as obras que talvez não fiquem prontas, isso gera um descrédito da população, que atrapalha o comércio. Se o poder público tivesse se preparado, certamente duplicaria o interesse”, concluiu o comerciante.

“O brasileiro não é patriota”, dispara vendedor

Centro de Pequenos Negócios, mais conhecido como “Beco da Poeira“, é o maior Centro Comercial Popular de Fortaleza. É um dos principais pontos da Capital para se encontrar produtos a preços mais populares ainda. Logo no primeiro stand, na entrada pela avenida do Imperador, as camisas de times de futebol balançam, colorindo as colunas do prédio. Chamam a atenção as cores cítricas do verde marca-texto da Nigéria. Mas nada de Brasil. “Brasil? O brasileiro não é patriota! Aqui há procura por todo tipo de camisa de seleção, menos do Brasil. A mais vendida é a da Argentina, depois a do Marrocos e a da Nigéria”, dispara o expositor Leandro Gomes, 43, há 21 anos no ramo do comércio.

“Só começamos mesmo a vender quando a Seleção Brasileira começar a treinar. Por enquanto, o pessoal vem aqui procurar camisa pela beleza. Argentina, Marrocos, Nigéria e Espanha, que são as mais bonitas. Mas tenho esperança de que as vendas vão melhorar uns 200% quando a Copa começar”, adiantou.

Os fãs de Victor Moses podem adquirir camisa do astro do Chelsea no Beco da Poeira para torcer pela seleção da Nigéria

No ‘Beco da Poeira’, não foi possível encontrar muitos stands com camisas canarinhas. Já praticamente no final do espaço destinado aos vendedores, o jovem Alan Bruno, 18, passa quase imperceptível em meio a um turbilhão de camisas coloridas. “Aqui não tem muita procura ainda. Mas se procurarem, temos de todas as seleções. Brasil, Nigéria, Espanha, Uruguai, Japão, Costa do Marfim… Quando começar a Copa, o pessoal procura. Estou tranquilo”, garantiu.

Vendedores desconhecem caxirola

Nas lojas que possuíam algum produto temático à Copa, a reportagem perguntou se já tinha à venda a caxirola, instrumento inventado pelo músico Carlinhos Brown para ser a “vuvuzela” brasileira. “Caxi… o quê?”, perguntou um dos vendedores. “Não, não temos não… Sei nem o que é”, revelou, emendando que “pode ser que chegue até o começo do torneio”.

http://diariodonordeste.globo.com

 

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