Uruburetama | Em sessão tensa, vereadores afastaram prefeito José Hilson de Paiva, acusado de abusar sexualmente de pacientes. Novo prefeito do município assume hoje
Por unanimidade, a Câmara Municipal de Uruburetama (114 km de Fortaleza) decidiu afastar temporariamente o prefeito José Hilson de Paiva (PCdoB), acusado de ter estuprado mulheres em consultórios nos quais trabalhava como médico. Em seu lugar, assume o atual vice, Artur Nery, com quem Hilson havia rompido logo no início da gestão.
Em sessão extraordinária convocada para a noite de ontem, 15, pela presidente do Legislativo municipal, vereadora Maria Stela Gomes Rocha, a Câmara aprovou a decisão com o voto de nove dos 11 vereadores. Dois parlamentares não votaram por se declararem impedidos: Alexandre Nery é filho do atual vice-prefeito e Cristiane Cordeiro, do prefeito.
A medida tem validade de 90 dias. Nesse período, é formada uma comissão de vereadores responsável pela análise do pedido de afastamento, formulado por Dhyego Barroso (PSL). Cabe ao colegiado tomar depoimentos de testemunhas de defesa e de acusação, processar o julgamento e apresentar um relatório final pela cassação ou pela absolvição de Hilson, tudo dentro do prazo improrrogável de três meses.
“Diante de tudo que vimos, não tem como compactuar. Hoje estou aqui não como vereador de oposição, mas como vereador do povo”, disse Barroso ao O POVO. Embora faça parte do partido de Jair Bolsonaro no Ceará, o vereador do PSL era da base de apoio do prefeito comunista.
Ex-vice-prefeito até 2016, José Hilson, 70, elegeu-se para comandar Uruburetama naquele ano. Também médico, ele apresentava-se em Uruburetama e Cruz, cidade próxima, como ginecologista sem, de fato, ter especialização na área.
Segundo denúncias apresentadas pelo O POVO desde o início do ano e pelo programa “Fantástico”, da TV Globo, no último domingo, Hilson abusou sexualmente de pacientes. Os casos, afirmam as vítimas, remontam aos anos 1990, mas nunca tinham sido apurados.
José Hilson é investigado pela Promotoria de Justiça de Uruburetama, que conta com auxílio do Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc), do Ministério Público do Estado. O procedimento corre em segredo de Justiça.
Também nesta segunda-feira, o prefeito afastado foi expulso do PCdoB, partido ao qual era filiado desde 2015. Hilson era presidente do diretório municipal da legenda em Uruburetama.
Questionado sobre demora na desfiliação do gestor, contra quem já havia suspeitas, Carlos Augusto Diógenes, o Patinhas, afirmou que o partido “foi o primeiro órgão a se pronunciar com uma decisão firme de condenação dos seus atos”.
Membro do comitê estadual do PCdoB que deliberou sobre a expulsão de Hilson, Patinhas acrescentou: “O Ministério Público e o Conselho Regional de Medicina não concluíram os seus processos (contra o prefeito). A Câmara Municipal de Uruburetama não aprovou o seu afastamento” (só aprovado pela Casa no final da noite dessa segunda-feira).
De acordo com o dirigente da agremiação, as denúncias do “Fantástico”, entretanto, “revelaram fatos novos” diante dos quais a Comissão Política Estadual, que havia aberto sindicância para apurar responsabilidades, “aprovou a sua expulsão por unanimidade”.
Deputado estadual pelo PCdoB, Carlos Felipe concorda que a punição que a sigla adotou contra Hilson só foi possível agora, com o fortalecimento das denúncias. “Antes não tinha tudo isso, só denúncia das duas amantes. O Conselho Regional de Medicina não tinha informações”, afirmou o deputado, para quem Hilson “só fez foi atrapalhar o partido”.
A reportagem tentou contato com o prefeito afastado logo depois da decisão da Câmara, mas não obteve nenhum retorno até o fechamento desta edição.
O POVO