Suspeito foi preso na última segunda-feira, 25, no município de Mãe do Rio, no Pará
Mais de um ano após torturar, matar e esconder o corpo da jovem Stefhani Brito, 22, o ex-namorado dela, Francisco Alberto Nobre Calixto Filho, 24, confessou o crime aos policiais e justificou que a ideia inicial era “dar uma pisa” na ex-companheira. Contudo, ainda segundo o relato, a situação teria “fugido do controle” e acabou com o assassinato. O caso ocorreu em 1º de janeiro de 2018. Calixto foi preso com identidade falsa no município de Mãe do Rio, no Pará, nessa segunda-feira, 25.
De acordo com o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Leonardo Barreto, os agentes da Polícia Civil do Ceará receberam a informação de que o suspeito estaria na cidade paraense e seguiram para lá na semana passada. Após investigações, os policiais perseguiram o suspeito até sua casa, para onde ele tentou fugir, mas acabou capturado.
“Ele disse que no dia do crime tinha marcado para ter uma conversa mais ‘dura’ com ela”, relatou Barreto. Ainda de acordo com o delegado, um pedaço de madeira maciço foi usado para agredir a vítima. O ex-companheiro de Stefhani irá responder por homicídio qualificado (feminicídio) e ocultação de cadáver. Ele ainda está no Pará, mas será transferido para penitenciária cearense.
Feminicídio
“O caso dela é emblemático em razão da gravidade, da hediondez que o autor do fato praticou o delito e da motivação elencada por ele para justificar a ação”, comentou Rena Gomes, titular do Departamento de Polícia Especializada de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPEGV).
“Essa prisão é importante para todo o movimento das mulheres, para mostrar que a tolerância será zero com feminicídio. Nossas mulheres ainda são muito vítimas desses crimes tão vis, mas é importante dizer que a polícia está tomando todas as medidas para coibir, de forma célere e gravosa, esse tipo de crime”, completou a delegada.
Começo de uma vitória
A mãe Stefhani foi até o DHPP, na manhã desta terça-feira, 26, para agradecer o empenho dos delegados. “Sei que não traz ela de volta, ela não está mais aqui com a gente, mas é uma sensação de um começo de vitória. Estamos batalhando para isso”, disse em entrevista ao O POVO.
Para a mãe, Rosilene Brito, foi quase um ano e dois meses de angústia, na expectativa de que Calixto fosse finalmente preso. “Veio um sentimento de um pouco de alívio, junto com revolta, raiva e angústia”, relata Rosilene. Ela diz reconhecer, porém, que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que haja a condenação do responsável pela morte da filha, que completaria 23 anos no último dia 22.
O caso de Stefhani serve, para Rosilene, como um alerta para mulheres em situação de relacionamento abusivo. A jovem foi vítima de tortura por Francisco pelos cinco anos em que se relacionou com ele. Relatos da família apontam que a moça possuía marcas de agressão e chegou a ser queimada pelo homem.
“Sei que já houve muitos casos depois do dela, mas, como ela foi a primeira mulher a ser morta no Ceará em 2018, isso veio à tona. Como mãe, só tenho a dizer que observem bem com quem você está vivendo. Na primeira arrogância, na primeira palavra que venha a ocasionar um sofrimento, denuncie”, pede.
Stefhani era torturada
Stefhani conheceu o ex-companheiro aos 17 anos. Os dois chegaram a morar juntos e montaram um negócio, uma padaria. “Ele queria deixar ela sozinha trabalhando para ela ficar mais presa. Quando ela morou aqui no bairro a gente não a via”, desabafa.
Ela chegou a ser queimada com ponta de cigarro e até com uma colher quente. Stefhani chegou a ir morar no Interior para se distanciar. “Isso pra mim é um psicopata, que amor não é. Ele queimava com faca, com colher, com cigarros. Quando batia nela, ele amarrava para não gritar. Acredito que ela era ameaçada, pois sempre ela dizia, sempre que discutia, a gente pedia para que ela não fosse encontrar. E ela dizia que ia pois precisava salvar a família”, disse.
Mandado de prisão foi expedido há um ano
No dia 5 de janeiro, a Justiça expediu o mandado de prisão preventiva contra Calixto . O plantão da comarca de Fortaleza pediu a prisão imediata de Alberto pelo crime de homicídio qualificado. Um ano após o crime que vitimou Stefhani Brito, a família da jovem pediu que o principal acusado se entregasse à Justiça. As declarações foram dadas na missa de um ano de falecimento.
Ainda em fase de julgamento, alguns parentes relataram que sofreram ameaças e tiveram que mudar de residência.As córneas da moça foram doadas sob autorização da mãe. “Perdi a flor do meu jardim, ficaram apenas os dois cravinhos”, lamentou lembrando outros dois filhos.
O caso de Stefhani foi contado na reportagem Feminicídio: os sonhos e as histórias de mulheres assassinadas no Ceará: