A alta incidência da doença pode ter diversos fatores, como relaxamento no cumprimento das medidas sanitárias, circulação de novas variantes mais transmissíveis e ser ainda sequelas de eventos e aglomerações, nos últimos meses
Assim como ocorre com outras doenças, a segunda onda da pandemia de Covid já era esperada. Mas, a atual dinâmica epidemiológica gera alerta. Na primeira onda – entre março e setembro de 2020 – quando havia mais desconhecimento, o número de casos em Fortaleza foi elevado e chegou ao pico em maio. Na segunda – a partir de outubro de 2020 -, mesmo com medidas de proteção estabelecidas e mais orientações disponíveis, o número de contaminações vem crescendo.
Na Capital, desde outubro, já foram confirmados 48.919 novos casos de Covid. Isso representa 82,36% dos 59.392 registrados na chamada primeira onda, conforme dados extraídos do Integrasus, plataforma da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) até as 14h desta terça-feira (16).
Não há um dia preciso no qual pode-se dizer que ali teve início a segunda onda da Covid em Fortaleza, mas boletins epidemiológicos da Prefeitura (cuja publicação é semanal, sendo a mais recente a do dia 12 de fevereiro) consideram que o aumento do número de casos iniciado no início do mês de outubro, indicam uma segunda fase ou onda do ciclo epidêmico.
Desse modo, o balanço dos casos feito pelo Diário do Nordeste, leva em conta que a primeira onda da epidemia na Capital ocorreu de março (registro oficial dos primeiros casos) até o final de setembro, e a segunda começou em outubro de 2020 e perdura até o atual momento.
Segundo o Integrasus, até o dia 15 de fevereiro, a Capital contabilizou 108.311 confirmações da doença. Desses, 54,9% das contaminações ocorreram na primeira onda – ou seja, no decorrer de cerca de 7 meses. Outros 45,1% foram de infecções confirmadas nos últimos períodos, em menos de 5 meses.
Registros do Integrasus evidenciam que o incremento de novos casos têm ocorrido de maneira contínua e escalonada a cada mês. Um indicativo é que enquanto em outubro foram 5,4 mil novas confirmações da doenças na Capital, em janeiro o total foi de 15,2 mil novos contaminados pela Covid.
Em Fortaleza, conforme levantamento feito pelo Diário do Nordeste com base nos boletins epidemiológicos da Prefeitura, dos 122 bairros, há 42 que atualmente já têm mais casos de Covid registrados na segunda onda do que no primeiro ciclo da epidemia.
O que pode afetar uma maior incidência?
Esse crescimento “mais rápido” pode ter diversos fatores. Pode ser o indicativo que há uma velocidade de contaminação maior nesse momento atrelada possivelmente às novas variantes do coronavírus em circulação na Capital, a exemplo da detectada inicialmente em Manaus e constatada em Fortaleza; ou ser efeito de um maior relaxamento no cumprimento das medidas sanitárias e até mesmo ser sequelas dos eventos disseminadores como as festas de fim de ano.
A titular da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, Ana Estela Leite, reforça que tem sido observado, nas três últimas semanas, “uma mudança na velocidade de aumento de casos dos atendimentos nos postos por síndrome gripal, nas UPAs e, sobretudo, uma demanda de internação”.
“A nossa preocupação é porque na primeira onda a população estava muito mais temerosa do que podia acontecer. Muito em isolamento. A população (agora) está cansada, por isso, temos que reforçar essas medidas. O momento é de muita cautela. É de alerta. Nós estamos todos preocupados com o que pode vir nos próximos dias”, ressalta a secretária.
O infectologista e presidente da Sociedade Cearense de Infectologia (SCI), Guilherme Henn, reitera que a incidência de casos de Covid na segunda onda “é algo multifatorial que devem estar concorrendo para justificar esse número tão grande de casos”.
O médico menciona que, na atual etapa da epidemia, parte da população ignora as medidas de distanciamento social. “Coisa que não víamos tanto na primeira onda. Hoje as pessoas estão saindo, trabalhando, se aglomerando”, completa.
Guilherme diz que estão sendo percebidas duas mudanças epidemiológicas em relação à primeira onda. “O maior número de casos tem se concentrado nos bairros com o IDH mais alto. Não entendemos bem a justificativa para isso. Os hospitais particulares estão muito mais lotados do que os públicos”.
Além disso, completa ele “temos visto o número maior de pessoas jovens e com poucas comorbidades tendo formas mais graves da doença. Não sabemos se é por uma questão de exposição, se tem a ver com uma variante nova ou se é porque tanto pacientes, como médicos, tem tomado medidas que podem prejudicar a evolução do paciente, como o uso de corticoides nos primeiros dias, o que é formalmente contraindicado”.
DN