Apesar de buscar “desconectar” imagem do PSDB com a do governo, Alckmin afirma que o partido continuará dando apoio para propostas que forem “do interesse do País”. Declaração provocou reação de Romero Jucá
Alçado a “candidato de consenso” à presidência do PSDB, o governador Geraldo Alckmin (SP) confirmou ontem que tucanos deixarão o governo Michel Temer após ele assumir o comando da sigla. Feita após dia de reviravoltas no partido, fala de Alckmin irritou o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), que cobrou “juízo” e respaldo até a transição de 2018.
“Prefiro acreditar que o PSDB vai ter juízo e somar forças para ajudar a gente a concluir essa transição”, diz Jucá, que lembra da possibilidade de aliança entre PMDB e PSDB em 2018. O desconforto do Planalto ocorreu após Alckmin falar ontem que, se dependesse dele, a sigla nem teria se aliado a Temer. “Eu sempre fui contra participar do governo”, diz.
As desavenças serão levadas à mesa de negociação no próximo sábado, quando o tucano se reunirá com Temer em Limeira (SP). Além de Alckmin, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) também confirmou desembarque do partido da base aliada, classificando a questão como “superada”. O senador, no entanto, defende saída “pela porta da frente, de cabeça erguida”.
Apesar de buscar “desconectar” imagem do PSDB com a do governo, Alckmin afirma que o partido continuará dando apoio para propostas que forem “do interesse do País”. Questionado se abandonaria Temer, o tucano foi evasivo: “Abandonar no sentido de não ter compromisso, não. Temos que dar sustentação na Câmara e votar projetos de interesse do País”, afirma
Tasso Jereissati
Levantada para colocar fim em impasse entre tucanos Tasso Jereissati (CE) e Marco Perillo (GO) pelo comando do partido, candidatura de Alckmin foi costurada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e deve ser confirmada na convenção da sigla, próximo dia 9.
Candidato que defendia postura de autocrítica e rompimento com o atual governo “mais radical”, Tasso disse sair da disputa “aliviado” e com “sensação de dever cumprido”. Segundo ele, função de sua candidatura era “chacoalhar” o PSDB.
“Mostramos que tem gente diferente, não somos como o PSDB que ultimamente estava aparecendo na mídia. Existe ainda indignação com atitudes que não condizem com nossa história, o nosso princípio. Deu uma chacoalhada principalmente nos mais jovens”, disse, em referência às suspeitas de corrupção em torno de Aécio Neves.
“O governador Alckmin tem a liderança, tem a autoridade e a habilidade necessárias para resolver os enormes problemas que o partido tem”, disse Tasso. “As opiniões diferentes existem, mas ele (Alckmin) como ponto de união, vai ser capaz de convergir para uma solução”, afirma o senador.
Saiba mais
Falas de Alckmin ocorreram em meio a dia turbulento entre tucanos. Mais cedo, o partido divulgou programa cobrando “choque de capitalismo” no País, com privatizações e mudanças na reforma da Previdência.
O documento, que deve servir de base para a campanha presidencial de 2018, provocou reação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“Sem os votos do PSDB, óbvio, a gente sabe que é quase impossível chegar a 308 votos, se não impossível”, disse. Tucanos cobram mudanças nas áreas de aposentadoria por invalidez, acúmulo de benefícios e nas regras de transição para servidores.
Segundo Maia, a base aliada e tucanos deverão dialogar para avaliar se estes três pontos inviabilizam o projeto. Para a bancada do PSDB, a adesão dos pedidos aumentaria em muito a adesão de tucanos.
Outro baque no PSDB veio do prefeito de Manaus, Arthur Virgilio. Afirmando que disputará prévias, ele diz que é um “constrangimento” Alckmin acumular presidência da sigla com campanha em 2018.
O Povo