“Em uma sala de aula, se uma pessoa estiver infectada, e não seguir todas as medidas de precaução, muito provavelmente elas podem infectar outras pessoas”, informa Gláucia Ferreira, médica e infectologista pediátrica

Os meses de janeiro e fevereiro são prenúncio do início do semestre letivo nas escolas de Fortaleza, seja da rede pública ou privada. Este ciclo é um momento aguardado por estudantes, pais, educadores e pelas próprias instituições de ensino. O que antecede esta fase de volta às aulas, mais uma vez é a incerteza causadas pelos dois anos de pandemia de Covid-19 e a atual alta de casos de coronavírus e Influenza, em Fortaleza.
Especialistas ouvidos pelo O POVO alertam para os riscos de intensificação das transmissões com a volta às aulas. “Em uma sala de aula, se uma pessoa estiver infectada, e não seguir todas as medidas de precaução, muito provavelmente elas podem infectar outras pessoas”, informa Gláucia Ferreira, médica e infectologista pediátrica.
A médica explica que as infecções respiratórias são transmitidas através de gotículas aerossóis e contato. Desta forma, apesar de pessoas infectadas-sintomáticas transmitem com maior frequência, aquela na fase pré-sintomática* e assintomática* podem transmitir infecção para outros indivíduos.
Em relação ao cenário de contaminação por Covid, no Ceará, os dados indicam que o número de casos confirmados na primeira semana de 2022 apresentou crescimento de 216% em relação à primeira semana do mês anterior.
Segundo o painel IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), entre os dias 1º e 8 de janeiro, o Estado registrou 3.157 novos diagnósticos positivos para a doença. Esse número é mais que o triplo do total verificado no mesmo intervalo de dezembro, que somou 997. Em média, foram 394 casos contabilizados a cada 24 horas considerando todos os 184 municípios cearenses.
Atenção dos pais
Tais dados levam mães, como a educadora Karla Amorim, 30 anos, a se preocuparem com a saúde dos filhos durante o período de retorno presencial às aulas. “Eu estou bem receosa, porque meu filho (Dionísio, 3) tem uma imunidade um pouco fraca. Ele entra em crise alérgica só com a mudança de clima”.
A mãe conta que, se pudesse deixar o filho ser cuidado em casa, não hesitaria. “Confesso que se eu tivesse com quem deixá-lo, eu não o levaria agora para a escola. Nossa família continua bem isolada e seguindo um esquema semelhante ao do ano de 2020, em relação aos cuidados e exposições contra o vírus”, finaliza.
Segundo o médico e imunologista, Cícero Inácio, toda doença infecciosa transmitida por vias aéreas (resfriado, gripe e Covid-19) aumenta contágio com o início das aulas das crianças. “Porém a gripe é mais perigosa, em números, para crianças que a Covid-19, mas não se param aulas por gripe. O importante é tratar os doentes e isolar os infectados”, argumenta o imunologista.
O médico recomenda sempre observar os indicadores, e enfatiza a importância das vacinas para combater as ações das contaminações. “Vida normal com os devidos cuidados sanitários adequados: isolamento dos doentes, tratar os doentes, vacinar todos, inclusive crianças, obedecendo os princípios de segurança, eficácia e imunogenicidade de cada vacina. Além disso, aplicar as outras vacinas, pois gripe, coqueluche e sarampo também matam”.
Vacinação
Por ter apenas 3 anos, crianças como Dionísio ainda não pode tomar a primeira dose do imunizante contra Covid-19. No entanto, para os pequenos de 5 a 11 anos de idade, o Ceará já se prepara para aplicar a D1 contra o coronavírus. O início da imunização das crianças desse grupo está programado para 15 ou 17 de janeiro, conforme informou o secretário da Saúde do Ceará, Marcos Gadelha.
“A vacina recomendada para Sars-Cov-2 liberada, a partir dos cinco anos, é a vacina da Pfizer. Nessa faixa etária é feita com uma dose menor e uma composição diferente da utilizada para as crianças maiores de 12 anos. É necessário que sejam feitas duas doses com intervalo de pelo menos 21 dias, com objetivo da prevenção dos casos graves da doença, das hospitalizações e morte”, explica a infectologista pediátrica.
A estipulação de uma data para que as crianças pudessem receber a imunização serviu para tranquilizar pais e responsáveis como a advogada Fernanda Menezes, de 25 anos, mãe de Miguel, 7: “O início da vacinação em crianças e a preparação da escola para receber os alunos me deixa menos preocupada com os casos de contaminação por Covid no ambiente escolar”, comenta.
“Lá na escola, eles possuem acesso ao álcool em gel por todos os lugares, tem a questão do distanciamento entre os alunos, utilização de no mínimo três máscaras. Eles fazem trocas durante toda a manhã”, finaliza. Já no caso dos adolescentes, que também voltarão às aulas nos próximos dias, a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, relata ter aplicado a primeira dose da vacina em 202 mil adolescentes, entre 12 e 17 anos, até o último domingo, 9.
Mas o imunologista alerta que a aplicação de apenas uma dose não é suficiente para evitar a transmissão e a contaminação nas escolas. “Assim como nos adultos não é suficiente (apenas aplicação da D1), também não será para as crianças”.
O povo