Se não chover, moradores deverão sofrer colapso d’água em Crateús. Em Tauá, água do açude Trici já não abastece mais pescadores da barragem. O pescador Valmir Vieira da Silva, de 52 anos, mora à beira da barragem do açude Trici, a 20 km da sede de Tauá, na região do Sertão dos Inhamuns, mas já não bebe mais a água do reservatório, porque simplesmente não há mais condições de consumo humano. “A gente está trazendo água para beber de Tauá”, diz. O jeito é comprar a água. À frente da casa, uma cisterna de polietileno espera a chegada das chuvas para enchê-la – coisa que nunca veio. Carros-pipa também não deram sinal de vida, segundo Valmir. Na última Sexta-feira da Paixão, à tarde, ele tomava um copo de guaraná com gelo, enquanto conversava com uma parte da família. O céu escurecia para chover. Não fosse a filha, o genro e a esposa dele, que vieram visitá-lo, Valmir estaria sozinho na residência que chama de “barraquinho”. O lugar é uma pequena vila de pescadores que se assentou ao redor da represa. São cerca de 15 moradores que ficam durante a semana para pescar traíras do açude e correm para a sede do município em feriados, por exemplo. Não à toa as outras casinhas estão vazias. Valmir mora lá há 10 anos, mas já trabalha do açude desde 1989, quando o reservatório sangrou pela primeira vez. Ultimamente, tem pescado de 30 a 40 kg por semana. Com a venda na cidade, apura cerca de R$ 130. “É só para sobreviver mesmo”, destaca. E acrescenta: “A pescaria acabou. Não tem mais água, não tem mais peixe”. O período da piracema Mesmo assim, não pensa em sair. Vai ficar por lá enquanto puder. Tanto que não consegue imaginar como seria o futuro se o inverno de 2013 não vingar. “Por enquanto sobrevivemos de esperança”, pontua. Com apenas 14,25% de volume total, o Trici fez Tauá ser uma das cidades sob risco de entrar em colapso de água.
Crateús
O agricultor Raimundo Frutuoso, de 79 anos, confia em Deus. Está esperando que o inverno ainda chegue para alterar a paisagem e fazer água no açude próximo de onde mora. “Só mesmo se apegar a Deus, porque não tem outro jeito”, crê, enquanto anda por terreno que antes era um pedaço do reservatório. A localidade Ingá, a 20 km da sede Crateús, se abastece da represa Carnaubal, o mesmo que leva água para a sede. Com 7,03% de volume, ele se encaminha para chegar em estado morto, aos 4%, quando não será mais possível aproveitar sua água. Crateús já sofre racionamento durante a madrugada. O professor Arquimedes Marques, que monitora a situação do açude desde abril de 2011, avalia que, caso não chova, a água só deve durar mais 50 dias, embora as previsões oficiais apontem ainda meses. Instituições da região já se articulam para encontrar alternativas diante do colapso
http://www.opovo.com.br