Itapipoca. Desde que o Açude Gameleira, que abastece este município, na Zona Norte do Estado, sangrou, na última terça-feira (11), o agricultor Aroldo Paixão, que mora a poucos quilômetros da barragem, tem ido ao local da lâmina do reservatório, só para apreciar a queda d’água, que avança sobre a parede, de cerca de 80 metros de largura.
Outro que não cansa de visitar o ponto de sangria do Gameleira é o autônomo Gabriel Morais, que levou a família, pela terceira vez, nesta semana, para ver o espetáculo das águas. Gabriel é morador de Itapipoca e relembra o quanto a falta de água prejudicou o dia a dia. “Agora aguardamos a sangria dos açudes Quandú (99,40%) e Poço Verde (64,96%), que abastecem o município”, disse.
As águas que jorram do Gameleira não abastecem apenas a sede e os doze distritos de Itapipoca. A Operação Pipa, parceria do Exército com os municípios, tem garantido, também, que a água chegue a outras cidades da região, como Tururu, Umirim, Irauçuba, Morrinhos e Pentecoste, a cerca de 60Km dali.
Segundo a secretária de Desenvolvimento Hídrico e Pesca, de Itapipoca, Rita Montenegro, a atual quadra chuvosa tem garantido a revitalização da agricultura familiar na região e a manutenção de projetos relacionados ao melhor aproveitamento dos recursos hídricos. Um deles é o Complexo Marinheiro. “Queremos tornar realidade esse projeto, que vai interligar, por meio de poços profundos, as águas que se fixam no nosso Litoral e as que mantemos aqui, no interior do município, para que as famílias que moram no sertão também possam se beneficiar desses recursos”, garantiu.
Reservatórios cheios
Segundo os dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), que monitora os açudes do Estado, o Gameleira, que pertence à Bacia do Litoral, é o quarto açude da região Norte a atingir sua capacidade máxima. Os outros, da mesma região, são Acaraú Mirim (Massapê), Itaúna (Granja) e São Pedro Timbaúba (Miraíma). Os demais com 100% da capacidade são: Caldeirões (Saboeiro), Valério (Altaneira), Cauhipe (Caucaia), Itapebussu e Maranguapinho (Maranguape), e Tijuquinha (Baturité).
Segundo a Cogerh, 106 açudes cearenses permanecem com volume abaixo de 30%. Mas, além do Quandú, outros já ultrapassaram a marca dos 90% de capacidade. Na lista estão Angicos, em Coreaú (94.17%); Tucunduba, em Senador Sá (94.13%); Gavião, em Pacatuba (91.93%); e Jenipapo, em Meruoca (91.49%).
Preocupação
Para Bartolomeu Almeida, gerente regional da Cogerh nas Bacias do Acaraú e Coreaú, a situação ainda é preocupante em boa parte do Ceará, apesar dos pontos positivos que a quadra chuvosa tem representado para o Estado. “Daí, a nossa continuidade das ações e deliberações, quanto à busca pela melhor oferta de água para os municípios, onde seus reservatórios ainda não saíram da situação de preocupação, como é o caso do Cedro (1.75%), Castanhão (5.87%) e Araras (13.51%). O aporte, nesses grandes reservatórios, tem sido praticamente zero. Daí, nosso trabalho em gerenciar, da melhor forma possível, a alocação por usos da água, na medida que temos uma demanda hídrica específica”, disse.
Chuvas
Das 7h de quarta-feira às 7h de ontem foram registradas chuvas em 78 municípios, sendo as maiores em Ipaumirim (72mm), Aurora (71mm) e Lavras da Mangabeira (71mm), segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). A previsão para hoje é de nebulosidade variável com chuva em todas as regiões cearenses ao longo do dia.
Enquete
O que a cheia representa para você?
“Que nosso Município vai ser abastecido pelos próximos anos, e que o período de seca ficou para trás. Tivemos falta de água, na cidade, por meses seguidos. Foi período de dificuldade também para a agricultura”
Maria Gleiciane Teixeira
Estudante
“Eu me emociono quando vejo essa água toda descendo pelo paredão. Não canso de vir aqui para ver. O Gameleira cheio representa fartura, na agricultura e na pesca. E também lazer para todos nós”
Antônio Ocean Aquino
Vendedor
Diário do Nordeste