Editorial do O POVO deste domingo (26) diz que papa pensa em ordenar homens casados, diante da escassez do clero. Confira:
O período da Quaresma para a Igreja Católica Romana, embora com menor intensidade do que no passado, ainda continua a mobilizar um grande número de fiéis em demanda de sacramentos e de cerimônias religiosas prescritas para essa época. Trata-se de um período de grande sobrecarga para o clero, sempre insuficiente, em termos numéricos, para atender à multidão de fiéis. Frente a escassez do clero, o papa pensa em ordenar homens casados. A revelação foi feita há poucos dias durante entrevista ao jornal alemão “Die Zeit”.
A prática é muito antiga no ramo oriental da Igreja (tanto na Igreja Ortodoxa como na Igreja Católica Oriental ligada a Roma); ao lado de um clero celibatário há um outro, formado por homens casados. Contudo, os bispos dessas igrejas são retirados do clero celibatário (monges). Nem sempre foi assim: nas comunidades cristãs primitivas, os bispos também eram casados (é o caso de São Pedro e, supostamente, vários apóstolos) e também escolhidos diretamente pelos fiéis. O celibato católico é uma tradição tardia, do início do século XII. Durante todo o período da Igreja Indivisa (primeiro milênio), antes do Cisma de 1054 que separou a igreja ocidental da oriental, o celibato obrigatório nunca foi aceito. Houve uma tentativa de impô-lo, no I Concílio de Niceia, em 325 d.C., Mas foi rejeitada, paradoxalmente, por um bispo celibatário, São Pafúncio: “Não devemos impor uma carga pesada desse tipo sobre os ombros de quem não tem vocação para o celibato”. A intervenção foi acolhida por todos e assim permaneceu até hoje no cristianismo oriental.
Como os últimos papas reconheceram, o celibato sacerdotal não é um dogma, na Igreja Romana, mas apenas uma disciplina que poderia ser revogada se o papa julgar oportuno. Mas se tornou uma tradição na igreja latina. Francisco, no entanto, ainda não a entende como opção para os atuais seminaristas. Para os padres já ordenados, não seria mais possível, já que a tradição não permite sobrepor o sacramento do Matrimônio ao da Ordem. Mas, sim, ordenar homens já casados e aposentados, de longa vinculação com a Igreja (viriprobati), isto é, homens provados.
Trata-se de uma boa notícia para os católicos.
Que venham logo.
Com O Povo