Em 2001, o espaço no Centro foi declarado Marco Histórico e Patrimonial de Fortaleza
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Em 2021, completam-se 150 anos do “batismo” da Praça do Ferreira, apontada como o símbolo mais importante do Centro de Fortaleza. Após sucessivas reformas ao longo do tempo, o local mantém seu desenho arquitetônico atual há 30 anos, quando passou por sua última grande intervenção.
A mudança ocorreu entre agosto e dezembro de 1991, com projeto foi assinado pelos arquitetos Delberg Ponce de Leon e Fausto Nilo, durante a gestão do prefeito Juraci Magalhães. Nela, foi instalada uma nova Coluna da Hora, derrubada duas décadas antes, e recriados jardins do início do século XX.
“Queríamos atingir o público, trabalhar uma comunicação com o fortalezense, criando uma estrutura que trouxesse elementos do passado e inovasse com uma proposta moderna”, destacou Fausto Nilo ao Diário do Nordeste, quando da reinauguração do espaço.
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Gerson Linhares, turismólogo e idealizador do projeto Fortaleza a Pé, elogia os principais resgates, sobretudo os quiosques que lembram os antigos cafés, mas lamenta o esquecimento do Abrigo Central da década de 1950, que funcionava como parada de ônibus, centro comercial e espaço de reuniões sociais.
Porém, o guia percebe que “a Praça vem perdendo seu brilho” pela retirada da função original de alguns equipamentos. “Precisamos de inovação no viés cultural, de um resgate, senão a tendência é a descaracterização total”, alerta.
Para ele, como a praça mais movimentada de Fortaleza, deveria receber núcleos culturais voltados para o artesanato, literatura, cordel e história, e monumentos que relembrem personagens marcantes para o próprio local.
O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-CE), geógrafo Cândido Henrique, também atribui à praça um papel importante como palco de festejos, movimentações políticas e manifestações populares, culturais e religiosas, mas que carece de mais atenção. “Hoje, há um acúmulo de pessoas que vem aumentando pelos efeitos da economia e em função da pandemia. A praça é um ícone a ser preservado, conhecido e valorizado”, ressalta.
Segundo o geógrafo, a praça está inserida num estudo do Iphan para o tombamento do conjunto urbano histórico do Centro de Fortaleza.
A Praça ao longo do tempo
Segundo o acervo da Prefeitura de Fortaleza, a Praça surgiu como um largo de areia, com alguns cajueiros e rodeada de casebres, no início do Século 19.
Em 1871, foi batizada em homenagem ao fluminense Antônio Rodrigues Ferreira, o boticário Ferreira, que em 1842 foi eleito presidente da Câmara Municipal da cidade. Ele foi um dos mais destacados políticos da época até falecer, em 1859.
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Durante sua gestão, nos anos 1850, o farmacêutico autorizou a derrubada do “Beco do Cotovelo”, uma estrutura de casebres em formato diagonal, o que permitiu à praça ter um desenho retangular.
No dia 7 de setembro de 1902, ela recebeu sua primeira urbanização, por decisão do intendente Guilherme Rocha. Até a década de 1920, ela abrigava quiosques, cafés, jardim, uma caixa d’água e um catavento.
O turismólogo Gerson Linhares destaca que os cafés instalados na Praça funcionaram como locais de efervescência intelectual, especialmente para os escritores do movimento Padaria Espiritual, em 1892.
Além disso, a Praça também é aliada de fatos do “Ceará Moleque”, ideia de que o humor se integra ao cotidiano social e cultural do cearense, como:
- a eleição do vereador Bode Ioiô, como forma de protesto à política local;
- o Cajueiro Botador, onde dezenas de pessoas se reuniam para contar causos e mentiras, foi cortado em 1920;
- a Vaia ao Sol: em 30 de janeiro de 1942, um grupo esperava o início de uma chuva enquanto observavam nuvens carregadas de água e, de repente, o sol apareceu.
Em 1920, a praça passou por nova reforma, na administração Godofredo Maciel, que retirou os quiosques e “mosaicou” toda a praça, fazendo vários jardins e colocando um coreto sem coberta, onde a banda da Polícia realizava apresentações às quintas-feiras.
Decisões polêmicas
Em 1933, Raimundo Girão derrubou o coreto e ergueu a famosa Coluna da Hora. Aquele ano também marcou a inauguração oficial do espaço.
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Décadas depois, em 1967, numa decisão impopular, o prefeito José Walter mandou derrubar a Coluna da Hora e o Abrigo Central e instalar várias estruturas de concreto e jardins suspensos, impedindo a visão do lado oposto da praça.
Ele alegou que, como a Coluna foi erguida sobre uma cacimba, estava cedendo e ameaçava transeuntes.
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Por isso, o projeto de Leon e Nilo foi elogiado por reaver parte dos elementos históricos da Praça sem retirar seu uso social como espaço de encontros e confraternização.
Prova disso é que, em dezembro de 2001, o local também foi oficialmente declarado Marco Histórico e Patrimonial de Fortaleza, “por decisão popular”, através da lei municipal 8.605.
Modernidade
Hoje, a Praça é também mais uma das Praças Conectadas de Fortaleza, onde é possível ter acesso gratuito à internet por meio de sinal Wi-Fi, conforme a Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (Citinova).
Também abriga o Cineteatro São Luiz, inaugurado em 1958 e reinaugurado em dezembro de 2014, após obra do Governo do Estado que recuperou seu projeto original como casa de cinema e de espetáculos.
DN