Bastou o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), sinalizar que irá reduzir os estímulos à economia americana, que apresenta uma recuperação mais rápida do que a prevista pelo mercado, para a cotação do dólar subir em relação a praticamente todas as moedas do mundo. No Brasil não foi diferente e apenas neste mês o dólar subiu mais de 6%, cotado a R$ 2,25 na última sexta-feira, o maior valor em quatro anos. Entretanto, outros fatores contribuem para que a valorização do dólar seja ainda maior no Brasil segundo Reginaldo Nogueira, professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec). Entre eles, destaca o especialista, a redução da taxa de crescimento chinês, um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, e a perda de credibilidade na política econômica brasileira no mercado doméstico e internacional, “principalmente em termos de política fiscal”. “O mercado olha agora e diz que ela (a política econômica) é fortemente expansionista e que o Governo não segue mais uma cartilha de austeridade, de responsabilidade fiscal, e isso gera pressão sobre o real”, avalia Nogueira. “Quando o Fed diz que vai diminuir a injeção de dólar na economia americana, ele sinaliza que ela já está andando com as próprias pernas. Isso tende atrair dólares para os Estados Unidos, e tira dos países emergentes”. “O cambio virou um problema sério para o Governo brasileiro”, diz Nogueira, já que os esforços governamentais têm como principal objetivo conter a inflação.
Desconfiança
Para o economista Ricardo Coimbra, o excesso de intervenções por parte do Governo pode aumentar ainda mais a desconfiança do mercado na política econômica, e gerar ainda mais especulação no câmbio. “Para o operador do mercado de câmbio, quanto mais volátil mais interessante pra ele”, diz. Coimbra diz que a partir do momento em que uma economia como a norte-americana dá sinais de recuperação, o investidor se sente seguro em aplicar o seu dinheiro lá. “A rentabilidade pode ser menor, mas o risco também é. E o que a gente vê agora é que está havendo uma migração dos países emergentes para os Estados Unidos”. “Melhorou lá, o capital vai para lá”, resume o economista Célio Fernando. O balanço de maio divulgado pela BM&FBovespa registrou um déficit de R$ 1,2 bilhões com relação aos investidores estrangeiros na Bolsa brasileira.
ENTENDA A NOTÍCIA
O anúncio feito pelo presidente do banco central americano, Ben Bernanke, de que o Fed reduzirá a injeção de dólares na economia dos EUA foi suficiente para que a cotação do dólar registrasse valorização em todo o mundo