Com a falta de chuvas, os criadores não conseguem mais produzir alimento para seus animais. A forragem é cara, e uma das alternativas é usar pedaços de mandacaru sem espinhos.
O agricultor Maurício Pessoa espeta uma posta de mandacaru e a mergulha num fogareiro construído à beira da cerca que separa seu terreno do caminho. Depois que os espinhos derretem, ele leva o braço da planta para ser moído numa máquina: é o alimento de suas 36 cabras e 18 cabeças de gado. Ele mora na fazenda Exu, distrito de Tapuiaré, a quinze quilômetros de Quixadá; até lá só se chega através de uma estrada coalhada de juremas esturricadas.
Pessoa já perdeu nove cabras e quatro vacas por causa da seca. A carcaça de uma delas, inclusive, ainda apodrece a alguns metros atrás da casa onde ele vive com a família – a esposa e um filho de nove anos. “Em maio a gente deu o resto de cilo e forragem que tinha”, diz. Os dois poços construídos por ele para armazenar comida para as rezes estão vazios atualmente.
O capim, sorgo, cana-da-índia, que plantava e poderia servir de comida para os bichos, não vingaram por falta de chuva. Recebeu os mandacarus que serão alimento de uma doação. Comprar forragem é caro. Principalmente pelo transporte. “Sirvo e depois solto para ver se eles encontram mais alguma coisa para comer”, lamenta. Sentado na cadeira da sala, ele explica que tem de dividir água de beber com o gado, porque, fora o deles, o reservatório mais perto e de água salgada fica a dois quilômetros.
No perímetro onde em 2011 chegou a colher 40 sacos de milho, cada um com 60 kg, agora é um descampado: as quatro mil raquetes de palma forrageira, doação do governo no início do ano, estão ressecadas. “Eu não penso em desistir fácil. Mas é cruel, é doído. O recurso para a seca só chega na seca. Quando chove, o agricultor é esquecido”, queixa-se.
fonte:http://www.opovo.com.br