Ser pai significa muita coisa. Às vezes, lutar diuturnamente para garantir o sustento dos filhos. Em outros casos, abdicar dos próprios sonhos para ver a realização profissional dos herdeiros. Há, porém, aqueles que optam por fazer um depósito mensal de pensão: papai escrito com dinheiro. Mas há quem prefira traduzir a paternidade como sentir o carinho do filho num olhar, num tocar, num acompanhar. Num banho de chuva. Chuva de amor.
Isto, no sentido literal, talvez, significando o transbordar da tal paternidade, gratificado bem acima da inflação, por um sorriso sincero de quem não tem motivo algum para se esconder atrás de máscaras.
Em Jaguaruana, a aproximadamente 183 quilômetros de Fortaleza, a história é conhecida à boca miúda. Stanley Moreira da Silva, o ‘Moreno’, 38 e Wesley de Lima Moreira, 18. Pai e filho. Uma dupla daquelas indissociáveis, um sendo parte essencial da existência do outro. Como uma dupla de heróis, enfrentam os desafios que a vida lhes impõe. Moreno trabalha meio expediente fazendo reparos em bicicletas na cidade. No restante do tempo, assume a identidade de super herói para a família. Em um Batmóvel imaginário de duas rodas, montado pelas próprias mãos, o pai leva o prodigioso filho aonde quer. Prodigioso, sim, no sentido estrito da palavra. Amar é seu grande super poder, assim contam. Alguém duvida?
Uma luta, o jovem já venceu quando ainda recém-nascido. A mãe, Sílvia Helena de Lima, de 36 anos, conta como foi. Só tinha quatro meses de vida quando, por uma infecção, Wesley acabou tendo uma parada cardiorespiratória. Foram 20 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital infantil, em coma. Mas acordou. Renasceu, como um verdadeiro herói, surgindo dos escombros da batalha. Sairia com marcas para sempre. As pernas, as mãos e a voz, dali em diante, tinham de ser as do pai. Wesley, por sua vez, seria o coração para bombear a vontade de seguir, o desejo de viver. Trabalho em equipe é isso, ora!
Desde então, Wesley tem torcido pelo Fortaleza Esporte Clube, curtido carnavais, conhecido cidades. É reconhecido por onde passa. Querido por muita gente.
Como todo bom sertanejo, alegra-se pela água que cai dos céus e banha a terra. E renova as forças interiores admirando o tilintar das gotas trazendo vida, molhando a seca.
É, então, a hora de mostrar a força dos músculos. De erguer massa bruta e de destroçar corações incrédulos. Na última quinta-feira (21), Sílvia Helena eternizou um desses momentos. Em vídeo, registrou algo corriqueiro do dia a dia: o pai, sendo pai.
O peso do filho, Moreno leva nos braços. Nem parece sentir. Num sorriso, a expressão de quem tem consigo um tesouro. Wesley, um menino por direito de assim o ser pra sempre, enquanto quiser, é a prova viva de que a Física pode ser desafiada onde e quando houver amor. Do alto dos braços de seu maior herói, renova a fé da humanindade em uma relação de afeto que parece jamais compreender o sentido de efêmero. Para a mãe, aquele costume se traduz mesmo em uma palavra de quatro letras que começa com a letra ‘A’.
“O pai só falta morrer por ele. Eu também. É a alegria da casa. Não temos luxo, mas o pouco que a gente tem, usamos para fazer tudo por ele”, diz a mãe.
Enquanto a chuva molha seus rostos, naquela alegria infinita, no nosso, ela reverte em lágrima. Nem toda chuva, afinal, é São José quem provê. Ou é? Mesmo São José, na semiárida Nazaré, também foi pai um dia.
Informações DN